
Já nos conhecíamos de vista há dois ou três meses, mas fugias sempre que te ia para dar uma festa. Ultimamente tens estado menos assustadiço.
Hoje, depois de sair da mercearia local, vi-te em mísero estado: magríssimo, com aspecto de teres sido maltratado, e tentei aproximar-me de ti. O resto fizeste tu: vieste atraz de mim, e querias entrar, mas não te deixei.
Subi, vim ver se tinha alguma coisa que te não fizesse mal, e levei-te um pacote pequeno de leite, que bebeste sôfregamente. Depois, não me largaste às lambidelas, rabo a abanar, nítidamente a mostrares gratidão.
Voltei à mercearia, falei com o merceeiro, falei com várias pessoas, e todas me diziam que o cão estava abandonado.
Só imaginava que num dia levavas com um carro, um pontapé, ou serias mandado abater pelos serviços Camarários.
Muito pensei se te deixaria entrar, ou não: ter um cão é uma prisão, uma despesa e uma responsabilidade; mas também é uma companhia e pode ser um bom amigo. Deixei a decisão para ti: abri-te a porta do prédio, entraste, estranhaste. Voltei a abrir, durante um bom bocado para decidires à tua vontade. Ao fim de alguns minutos, olhaste para mim, ganiste, e vieste comigo. Quando te abri a porta de casa, deixei-te entrar, mas só o fizeste atraz de mim.
O pior vem agora: tratar de ti, levar-te a seres visto pelo veterinário, levares as vacinas, recuperares físicamente, etc.
O banho, foi a primeira coisa: com champô Vichi, e depois com água e betadine. A seguir, estive a desinfectar-lhe as feridas. De certeza que lhe ardia e, não só me estava a deixar tratar, como me dava lambidelas.
Entretanto, vou vendo se, por acaso, aparecem os donos, ou se alguém o quer. Caso não queira, já arranjei um berbicacho de todo o tamanho!!!
Enquanto escrevo isto, estás deitado ao meu lado a dormir. Dorme bem...