segunda-feira, 14 de maio de 2012

Até um dia, cão como nós, Nabão!

Lisboa 22 de Agosto de 2011

"Continua a fazer-me certa confusão considerarem apenas o Ser Humano como animal racional. Alguns animais (sem ser o Ser Humano) também pensam; são perspicazes, aprendem, mostram afectividade, são brincalhões, etc..
É o caso do Nabão, este canito que aqui aparece na foto.
Mas para além do que aqui referi, o seu processo de envelhecimento tem também sido parecido com os das pessoas. Ele faz parte da família. Como é dos meus pais (embora também o considere meu), por vezes refiro-me a ele de brincadeira, como "o meu irmão mais novo".
Neste momento, padece de vários males, entre os quais, o fígado dilatado, o estômago inflamado, artroses nas patas traseiras que o dificultam a andar. Tem dores e sofre como nós.
E, embora não esteja lá em casa, tenho a impressão que o telefone tem tocado mais vezes para se saber do seu estado de saúde. Isso normalmente acontece entre pessoas.

Mas ele é um cão como nós, parafraseando Manuel Alegre."


Tinha publicado um post com este texto e imagem em 22 de Agosto.
Faltam-me agora palavras, pelo que voltei a publicá-lo; assim, é só acrecentar alguma coisa.

Encontrado na Boca do Inferno a 5 de Setembro de 1998, teria um mês, e assim consta no registo dele: Nome: Nabão; Raça: Indefinida; Pelo: castanho escuro e com pouco pelo; Data de nascimento: 5 de Agosto de 1998.

À data em que escrevi o que está entre comas, já ele tinha imensos problemas. Últimamente, tinha dificuldade em respirar, por causa de um edema pulmonar. Cansava-se muito. Já não andava. Engasgava-se. Ontem teve um ataque que não sei explicar; talvez um AVC. Há escassas horas, os sintomas agravaram-se e, nem com um analgésico forte deixou de ter dores. Gania, respirava ofegante, sempre com os olhos à procura dos donos.

Fizemos aquilo que não se pode fazer às pessoas neste país: eutanásia.

Conseguiu juntar 7 dos melhores amigos dele (a contar  com o médico veterinário) que fez o que tinha de ser feito, de forma a que ele não sentisse nada. Apenas adormeceu, e já não sofre.

Nabão: 05-Ago-1998 - 13-Mai-2012

5 comentários:

Maria disse...

Foi assim, meu filho.
Foi muito feliz, deu-nos muitas horas felizes, morreu, como sempre lhe prometi. Nos meus braços e com todos os que mais gostava ao pé.
Beijinhos
Mãe

Vasco disse...

Teve tudo e mais alguma coisa. Foi bem tratado. Quando se portava bem, levava ... línguas de gato!
Mas, últimamente, foi perdendo a qualidade de vida.
E já há meses, sem conseguir andar, os donos levavam-no à varanda fazer xixi e o resto.
Os problemas respiratórios agravaram-se, a queda de pêlo, as feridas pelo corpo... que mais havia a fazer?
Agora, só temos de aguentar a ausência dele.
Beijinhos (agora) para os dois.

jose garrido disse...

Amigo Vasco, entendo que não devem ter sido fáceis as horas que tens passado, por tal perda.
Fica-nos o coração triste, invade-nos a saudade e correm lágrimas pelo rosto. Parabéns pela tua nobreza de sentimentos.
Admiro a coragem dos teus pais na tomada de tal decisão, que compreendo não será fácil de tomar. Mas julgo ser louvável, evitando assim o sofrimento dia a dia, que o nabão vinha a sentir.
Não esqueço o quanto este canito conquistou a minha simpatia e ainda hoje o visualizo a roer um osso de entrecosto que com a maior astúcia me tirou. E o que ele se fartou de lamber o focinho!
Vasco, o nabão foi um cão feliz, cheio de mimos, carinho, atenção etc.
Nem muitas pessoas se dão a este regozijo. Que como se sabe no mínimo, são desprezadas, e colocadas num lar ou abandonadas.
Vasco o nabão, está bem! Livre das dores que o corpo lhe causava, corre, brinca e salta sem sentir dor alguma. E voa a subir e a descer escadas.
Se o imaginares anda a esconder as pantufas tal como todos os cães em pequeninos, fazem. E já se encheu de línguas-de-gato!
Força, Vasco, recorda sempre o nabão e todos os momentos bons que passaste com ele. Ele decerto se lembra de ti e de todos que o acarinharam.
Do teu amigo Zé

Vasco disse...

José,

A foto anexada, foste tu quem a tirou, num dia bem difícil. Tinha partido a Ilídia, minha (quase) tia-avó. Fizeste um favor que nunca o pagarei: ficaste em minha casa a tomar conta do Nabão, enquanto fui ao velório e depois ao funeral.
O entrecosto, também não esqueço. Mesmo já com dificuldades de mobilidade, abocanhou o bocado de osso que caíra para o caixote do lixo. Ainda por cima, ele não podia comer carne de porco! Mas, vá lá que não lhe fez mal.

Já agora, por curiosidade, algumas horas antes de morrer, comeu línguas de gato.

Abraço.

Maria disse...

Meu Filho:
Encontrei isto agora mesmo.
São para ti, que tantas vezes foste o ninho dele:

Os olhos do meu cão

Os olhos do meu cão são doces como mel,
Dum castanho brilhante, raiados de ouro puro.
Brilham como lanternas, se ele vem do escuro
Como a pedra preciosa de um anel.

Olham para nós, são poços de ternura
E quando vem em busca de carinho,
Faz do nosso colo, a doçura de um ninho
E dá-nos a certeza de uma amizade pura.

Não fala, mas entende as nossas amarguras
Lambe as lágrimas que teimam em correr,
Faz-nos rir com as suas diabruras,
Até que o sono o faz adormecer.

Maga 2008-12-22

Para o Nabão

Agora que ele adormeceu, para sempre, nos braços que o embalaram, já fazem pouco sentido. São só Recordação e Saudade.
Beijinho, filho
Mãe