Quem conhece minimamente a Cidade de Tomar, e nunca ouviu falar da “Casa das Ratas”, ou da “Casa Matreno”? Ambas pertenciam ao Sr. José Matreno.
O Sr. Matreno deixou-nos antes de ontém, dia 6 de Maio.
Conheci-o ainda a trabalhar, ou na Casa das Ratas, ou na Casa Matreno. Um dia, fui com a minha mãe e o meu pai à Casa Matreno. O Sr. Matreno foi que nos serviu à mesa. A certa altura, a “Maria dos Alcatruzes” perguntou-lhe se ele se lembrava de seu pai – meu avô. Quando lhe disse o nome, de imediato ele respondeu: “Como me havia de esquecer dele?” E em seguida contou uma aventura que tiveram juntos: Um amigo do meu avô e do Sr. Matreno comprara um Citroën “arrastadeira”. Nesse tempo, davam um prémio ao primeiro que conseguisse virar um carro desses, o que era difícil, graças à grande estabilidade do automóvel. Acontece que quando o amigo comprou o carro, convidou o Sr. Matreno, o meu avô e outro amigo para irem experimentar dar uma volta no carro. O passeio foi à noite, depois do jantar. As estradas eram más e escuras. A viagem começou por ser boa, mas acabou mal: o dono da viatura galgou uma azinheira meia caída, e o carro virou de lado. O único ferido foi o meu avô, que partiu a clavícula e não sentia as pernas, até que um médico lhe deu um jeito nas costas e o meu avô voltou a sentir as pernas e a andar.
Passados quarenta e tal anos, o Sr. Matreno ainda se lembrava do acontecimento.
Há menos de um ano, já o Sr. Matreno estava muito mal, mas mostrei-lhe uma fotografia do meu avô, e ainda lhe consegui arrancar um olhar lúcido.
Há dias, fui a Tomar e soube que a Casa das Ratas e a Casa Matreno foram trespassadas, mas nem chegaram a fechar, nem mudaram de nome. Soube que o Sr. Matreno estava muito mal, pela sua mulher.
O Sr. Matreno deixou-nos, mas a lenda continua!